De longe, um dos maiores enganos sobre meditação envolve a idéia de que ela não requer nem ambiente propício, nem outros preparativos. Embora, de fato, os meditadores experientes dispensem vários detalhes, aqueles que estão se iniciando na prática sempre necessitam de algumas medidas coadjuvantes, que envolvem preparação e ambiente. Sobre isso, conversaremos hoje.
O primeiro passo consiste em estabelecer – para si mesmo e para aqueles que convivem com você – um momento, todos os dias, para sua meditação. Esse será o “seu momento”. É um momento inegociável. Todos devem ser avisados para não lhe interromper. Eu costumo dizer que, embora a meditação desenvolva características altruísticas com o passar do tempo, uma prática de meditação é um evento egoístico. Apenas você com
você mesmo, sem elementos externos.
O segundo passo é determinar um local que lhe pareça propício. Idealmente, será um lugar silencioso, que não permita interrupções. Se não puder ter um quarto para meditação, tenha um “cantinho” para meditação; se não puder ter um “cantinho”, tenha uma poltrona. Se não puder ter uma poltrona, tenha uma almofadinha, mas recomendo-lhe ter sempre algum espaço ou objeto que lhe associe, de pronto, com a idéia de meditar. Tenho um amigo que, sempre que medita, vai para seu quarto, em sua poltrona predileta e leva consigo um vasinho de planta que coloca ao seu lado. Assim, toda vez que ele entra naquele quarto, senta-se naquela poltrona e tem o vaso de planta ao lado, já se instala um “ambiente meditativo”, propício para a técnica. Outras pessoas usam uma determinada roupa; outras acendem um determinado incenso; outras ouvem uma determinada música; outras lêem um determinado livro, e assim por diante. Não tenho dúvidas de que, para aqueles que se iniciam na meditação (pelo menos nos seis primeiros meses), esses aspectos ritualísticos são de grande ajuda para meditar. Para que alguém independa completamente desses aspectos, penso que precisam se passar cerca de 2 anos (ou cerca de 600 práticas).
Em seguida, pedem-se alguns outros cuidados. As roupas usadas devem ser folgadas e confortáveis, não produzindo desconforto, nem calor, nem frio. Evitam-se adereços que possam incomodar, tais como alguns tipos de anéis, gargantilhas, etc. Lembre-se de que mínimos desconfortos, ao início da técnica, podem virar grandes incômodos, quando se está prestes a atingir um estado maior de relaxamento. As refeições pesadas, nas 2 últimas horas que antecedem a meditação, não são adequadas. De mesma forma, um jejum superior a 8 horas pode dificultar a operacionalização da técnica.
Por fim, adota-se a posição para meditar. Ao contrário do que se costuma pensar, não precisa haver tanta rigidez na postura do meditador. Pode-se meditar sentado, com as pernas cruzadas ou sentado em uma poltrona, Nas duas formas, evita-se flexionar ou estender muito as costas, mantendo a coluna moderadamente ereta, mas sem produzir desconforto. Costumo recomendar, para ocidentais que se sentam sobre o chão com pernas cruzadas, o uso de uma almofadinha, idealmente em forma de disco, com 25 a 30 cm de diâmetro e 10 a 15 cm de altura, colocada sob as nádegas. Essa medida pode reduzir muito o desconforto e permitir um avanço mais rápido na técnica. Os braços devem manter um ângulo de cerca de 90º com os ombros e os antebraços devem manter um ângulo de cerca de 90º com os braços. As pernas devem manter um ângulo de cerca de 90º com as coxas. Como recomendação especial, sugerimos que o principiante evite meditar deitado e evita apoiar a cabeça, pois a chance de dormir é muito alta.
Reproduzo, aqui, parte das orientações que costumo oferecer para jornalistas ou desenhistas, quando pretendem fotografar ou reproduzir um meditador: imagine um meditador em posição sentada, em poltrona confortável, mas com um encosto não muito inclinado (mais retinho) e os antebraços apoiados, formando um ângulo de uns 90° com os braços, porém sem erguer (e nem deixar cair) os ombros. Se a foto for feita em um sofá, os braços podem estar apoiados em almofadas colocadas ao lado do corpo, de forma que permitam a mesma angulação dos antebraços; no sofá, podem também ser colocadas almofadas nas costas, para não deitar muito o tronco. Evitar apoiar a cabeça. Os olhos devem estar suavemente fechados; a boca também. A musculatura da face deve estar bem relaxada, sem expressão definível.
É muito incomum que se aconselhe alguém a não meditar. No entanto, alguns casos tornam essa prática perigosa. O principal exemplo está nos casos de indivíduos com história (ou suspeita) de psicose. Em minha experiência clínica, os quadros psicóticos frequentemente pioram com a meditação. Por isso, costumo recomendar que o aprendiz esteja sem apresentar surto há pelo menos dois anos e esteja sem dependência de medicação há pelo menos um ano, para que possamos orientar uma prática meditativa.
A música não é um componente obrigatório da meditação, porém é utilizada por muitos praticantes. Nesses casos, tenho sugerido que se use uma música preferencialmente instrumental, relaxante e de andamento lento.
Quanto tempo meditar? Para quem está começando, tenho orientado um mínimo de 15 e um máximo de 20 minutos diários. O tempo pode ser marcado com a própria duração da música utilizada, ou com um despertador colocado dentro de uma gaveta próxima, ou com o chamado pré-combinado de alguém, batendo suavemente à porta. Lembre-se de que, ao estar relaxado, os estímulos externos se tornam aparentemente muito mais expressivos.
No próximo mês, apresentaremos uma técnica de meditação. Nos vemos por lá!