Abraham Maslow viveu de 1908 a 1970. Lecionou nas Universidades do Brooklin e de Brandeis, nos Estados Unidos, porém foi pouco compreendido por seus alunos, na época. Ao lançar seu livro “Motivation and Personality”, ele também lançou sua conhecida teoria, que fala sobre a hierarquia das necessidades humanas. A partir de então, recebeu crescente reconhecimento, até que, no final da década de 60, foi premiado pela Associação Americana de Psicologia, com o título de “Humanista do Ano”. Contudo, seu prestígio foi tardio. Logo depois, em 1970, ele morre por ataque cardíaco. O que isso tem a ver com meditação? Este texto pretende responder.
Abraham Maslow viveu de 1908 a 1970. Lecionou nas Universidades do Brooklin e de Brandeis, nos Estados Unidos, porém foi pouco compreendido por seus alunos, na época. Ao lançar seu livro “Motivation and Personality“, ele também lançou sua conhecida teoria, que fala sobre a hierarquia das necessidades humanas. A partir de então, recebeu crescente reconhecimento, até que, no final da década de 60, foi premiado pela Associação Americana de Psicologia, com o título de “Humanista do Ano”. Contudo, seu prestígio foi tardio. Logo depois, em 1970, ele morre por ataque cardíaco. O que isso tem a ver com meditação? Este texto pretende responder.
Segundo a teoria de Maslow, uma das coisas que diferenciaria os homens dos animais, seria a hierarquia humana de necessidades – muito mais complexa do que nas outras espécies. Segundo ele, existiriam cinco níveis de necessidades humanas: fisiológicas, de segurança, sociais, auto-estima e auto-realização, seguindo exatamente essa ordem de prioridade. Uma vez satisfeito – pelo menos parcialmente – um nível, o indivíduo passaria a buscar a satisfação do nível seguinte.
As necessidades fisiológicas são as mais básicas. Envolveriam respiração, água, comida, excreção, sexo (biológico), etc. Se alguém, por exemplo, não sabe se conseguirá se alimentar hoje, será difícil se preocupar com uma futura conquista profissional.
Depois, viriam as necessidades de segurança, que envolveriam a proteção física, da saúde, da família, do emprego, da propriedade, etc. Alguns incluem aqui a necessidade de alguma crença ou religião – no seu aspecto mais primário. Quando alguém não tem segurança, ou saúde, não pensará – por exemplo – em lutar contra os preconceitos na sociedade.
No terceiro lugar estariam as necessidades sociais, quando o indivíduo precisa se relacionar e amar. Aqui, ficam listados os amigos, a família, a “turma”, a torcida do time de coração, a tendência política, a(o) namorada(o),etc. Por exemplo, dificilmente alguém socialmente segregado estaria interessado em expressar sua criatividade no dia-a-dia.
Em seguida, temos as necessidades relacionadas à auto-estima. Aqui se incluem: ter confiança, ser respeitado, obter conquistas, ter “status” e gostar de si mesmo. Por exemplo, alguém que não confia em si mesmo e nem tem o mínimo respeito dos colegas, não ficará preocupado com sua “transcendência de valores egóicos”.
Por fim, vêm as necessidades de auto-realização. Neste ponto, o indivíduo se preocupa em desenvolver plenamente o seu potencial único. Estariam envolvidos os aspectos da criatividade, da espontaneidade, da habilidade na solução de problemas, da aceitação dos fatos. Outros incluem aqui a necessidade de valores espirituais mais sutis (além do contexto religioso).
Nesse “desfile de necessidades”, que apresentamos acima, onde seria útil a meditação? Bem, por certo ela não alimenta e nem mata a sede, o que a descarta como elemento que possa saciar necessidades fisiológicas. Quanto à saúde física, ela poderia ajudar, porém apenas como profilaxia de doenças relacionadas ao stress. Ela não contribuiria muito para a socialização, a não ser que alguém medite dentro de um grupo religioso ou filosófico específico. Na auto-estima, pode contribuir parcialmente, equilibrando a ansiedade pelo resultado do convívio social. Porém, é no último nível que podemos ver sua plena ação, trazendo quietude, aceitação, espontaneidade e transcendência de conteúdos emocionais antes cristalizados.
No Departamento de Psicobiologia da UNIFESP, José Roberto Leite e Eliza Kozasa orientaram uma tese de Mestrado que, entre outras coisas, estudou os índices de diferentes níveis de necessidades entre voluntários de meditação.
Nesse interessante estudo, a pesquisadora Elaine Sales trabalhou com voluntários de meditação tipo Zazen, por três meses. Antes e depois desse período, ela quantificou os índices de motivação para os cinco níveis de necessidades de Maslow, estudando-os através de um instrumento específico. Decorridos três meses, notou-se que a meditação conseguiu interferir (com redução) apenas nos índices motivacionais relativos à auto-realização. Em outras palavras, os meditadores conseguiram saciar parcialmente sua necessidade de auto-realização através da prática meditativa.
Esse estudo, de Sales, Kozasa, Coen & Leite, veio preencher algumas lacunas de compreensão que me desafiavam, quando eu observava voluntários de meditação, e me fez entender porque ocorriam certos resultados, em certas circunstâncias. Porque a meditação não seria o método de primeira escolha em populações extremamente carentes; porque os adolescentes, em sua sede de socialização, tinham dificuldade em praticar a meditação fora de um contexto de grupo; porque os voluntários entre 30 e 50 anos tinham os melhores resultados após meus workshops; e assim por diante.
Na maior parte das pesquisas, o índice de desistência entre voluntários aprendizes de meditação varia de 33 a 44%. Em um acompanhamento feito por nosso grupo, por quatro anos, notamos um índice de 15% de desistências completas, que chegaria a 46% se também fossem somadas as desistências parciais (menos que uma prática por semana). Tal fato pode ser devido a diversos fatores, que vão desde o instrutor até a seleção dos voluntários. No entanto, a partir de agora, creio que devemos também considerar a influência das necessidades individuais do voluntário. Afinal, diferentes pessoas podem ter diferentes níveis de necessidades, e consequentemente diferentes níveis de motivação para meditar.
Continuo acreditando que a meditação é para – quase – todos. Porém, nem sempre hoje; nem sempre agora. Na verdade, escolher o aprendiz não é apenas escolher a pessoa, mas também escolher o momento que este pessoa vive… e as necessidades que momentaneamente a motivam.