Erros didáticos no ensino da meditação

Em nossa experiência clínica, temos percebido algumas impropriedades didáticas no ensino da meditação. Hoje, gostaríamos de falar sobre as principais inadequações que temos detectado. Todas elas caracterizam impropriedades, ou por serem indutoras de exercício da lógica, ou então conduzirem a estados modificados de consciência diferentes da meditação.

Este é um trecho de artigo nosso, publicado em: Anais do VI Congresso de Stress da ISMA Brasil – International Stress Management Association. Porto Alegre, Junho de 2006.

Primeira inadequação: induzir à imaginação criativa. Exemplos: “Imagine-se, agora, às margens de um lindo lago azul…”; “Sinta-se, agora, desprendendo-se do seu corpo e voando livremente para a paz…” 

Segunda inadequação: propor técnicas avançadas ao principiante. Um exemplo seria começar, com um iniciante, com uma técnica passiva perceptiva, que costuma utilizar “âncoras” muito sutis, difíceis de serem mantidas por quem está começando a meditar. Uma classificação das técnicas é apresentada em outro texto desta mesma coluna.

 

Terceira inadequação: orientar o aprendiz durante a prática. “Agora, todos os seus pensamentos se vão e, pouco a pouco, vai ficando apenas o seu verdadeiro Eu”. Nesses casos, a probabilidade de indução a um sutil transe hipnótico é bem maior do que a chance de se estabelecer um “estado meditativo”. Quarta inadequação: confundir as metáforas didáticas com a técnica, e explicar o que é meditação, ao principiante, usando frases como “Meditar é deixar passar as nuvens brancas no céu azul”; ou “Meditar é deixar passar a luz, sem resistência, através do vidro transparente”. Quinta inadequação: confundir os eventuais efeitos com a técnica. “Meditar é encontrar a paz dentro de si mesmo”; ou “Meditar é entrar em harmonia com o Todo”. Sexta inadequação: não orientar o principiante. Afirmações do tipo “Simplesmente, sente e medite”; ou “Para meditar, basta ficar parado”. Sétima inadequação: usar definições que reforçam a lógica. “Meditar é controlar a mente”; ou “Meditar é destruir a mente”; ou “Meditar é ter a mente sob domínio”. Oitava inadequação: em um só tempo, conseguir associar a quinta, a sexta e a sétima inadequação. Isso é obtido a partir da mais clássica falha didática no ensino da meditação. A famosa frase: “Meditar é não pensar em nada”.

 

Em resumo, esses seriam os “tropeços” mais comuns no ensino da meditação. É preciso conhecê-los – e reconhecê-los – sempre que se procurar um instrutor, para assim filtrar os malentendidos, e mais rapidamente encontrar o ajuste de sua técnica.

Até breve.

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