Hoje, falaremos sobre as modalidades mais conhecidas de meditação: as técnicas passivas. Mas, antes de tudo, devemos entender os dois tipos básicos de técnicas passivas: aquelas que chamamos de e as que chamamos de perceptivas.
As técnicas passivas concentrativas utilizam, como âncora, um foco bem determinado. Como vimos na coluna do mês anterior, este foco pode ser um som, um objeto de fixação, uma visualização ou ainda eventos naturais.
Os focos sonoros podem ser representados por um mantra, que consiste em um som específico, geralmente com significado de especial valor para o praticante. Outra opção seria o que alguns chamam de “rumi”, ou seja, um som vibratório, geralmente com sonoridade entre o “u” e o “r”, capaz de vibrar a caixa craniana. Outra modalidade, ainda, estaria nos sons advindos da própria respiração, como o som sibilante, produzido pela passagem do ar pela língua (mantida dentro da boca) dobrada longitudinalmente sobre seu próprio eixo.
Também podem ser utilizados objetos de fixação, tais como um ponto fixo na parede, o centro de uma mandala ou mesmo a chama de uma vela. Tais objetos devem ser fixos ou, no máximo, apresentar aspecto e movimentos sem tanta variação (como a chama da vela, por ex.).
As âncoras de visualização consistem em figuras visualizadas pelo praticante (por ex., uma flor), eventualmente até apresentando movimento (por ex. uma flor que se abre e fecha em conjunto com a respiração). De qualquer forma, é fundamental entender que a figura visualizada não deve apresentar variações livres durante a prática, caso contrário, a meditação irá se converter em uma prática de imaginação criativa. Ao se visualizar uma flor, por exemplo, ela não deverá se alterar em tamanho, em forma, etc.
As técnicas ditas “naturais” utilizam eventos já habitualmente presentes em nosso corpo ou em nosso meio. Como exemplo, teríamos o foco na passagem do ar pela entrada das narinas e sobre os lábios superiores, ou no movimento do abdome durante a própria respiração.
Todas as modalidades acima poderiam ainda ser chamadas de devocionais, caso o foco utilizado represente um valor de cunho religioso/espiritual. Nesses casos, no exemplo de um praticante cristão, o mantra pode consistir no próprio nome de Jesus, a fixação pode ser feita sobre um crucifixo sobre a parede e a visualização pode ser representada pelo coração de Cristo, com ou sem movimento. Assim como nas técnicas ativas (vide coluna do mês anterior) As modalidades devocionais, apesar de motivarem mais facilmente o praticante, costumam trazer consigo fortes valores religiosos, morais e culturais, visceralmente associados a esses símbolos, que frequentemente “contaminam” a técnica, e acabam por promover seqüências de pensamentos, onde se julga o próprio exercício meditativo.
As meditações ativas perceptivas se caracterizam por utilizarem âncoras muito mais sutis. As chamadas “âncoras negativas”. Aqui, o termo “negativo” não é utilizado em seu aspecto pejorativo, mas sim em semelhança ao sentido que descreve o negativo do filme fotográfico. São as chamadas “âncoras de ausência de âncora”.
Quando são chamadas técnicas (passivas perceptivas) de harmonização, o foco, nestas situações, pode ser o próprio momento de agora, ou os próprios eventos (ou sensações) que ocorrem ao meditador, ou ainda os próprios pensamento momentâneos do meditador que devem, todos, ser observados, sem análise, sem julgamento e sem expectativa.
Na modalidade última, que cognominamos de “testemunhar”, o meditador apenas observa a si mesmo, ao seu próprio corpo, seus próprios pensamentos e sua própria experiência, como se fosse uma testemunha, como se fosse um observador externo, que apenas testemunha, sem análise, sem julgamento, e sem expectativa, como se estivesse (metaforicamente falando) fora do seu próprio corpo e da sua própria vida.
As técnicas passivas perceptivas podem suceder modalidades de catarse (sendo chamadas de pós-catarse) ou modalidades de concentração (sendo chamadas de pós-concentração). Podem ser inseridas em um ambiente de significado religiosos/espiritual, quando as cognominamos de devocionais (ex: apenas observar, sem julgamento, a constante ação do Divino sobre o planeta ou sobre o universo). Neste caso, mais uma vez, corre-se o risco de sofrer as ações dos fortes valores religiosos, morais e culturais, visceralmente associados a esses aspectos, podendo “contaminar” a técnica com o julgamento da mesma.
No próximo mês, estaremos falando sobre um tema muito polêmico e muito interessante. As mais freqüentes confusões de conceitos e técnicas, feitas mundo afora, quando se fala em meditação. Até lá.