Sempre que se fala em meditação, todos costumam imaginar alguém bem quietinho, de olhos fechados,  sem fazer qualquer movimento, e geralmente pronunciando algum som repetitivo. No entanto, nem  sempre é isso que acontece. Essa postura representa apenas uma das várias formas de meditar, e esse é o  nosso assunto de hoje: a classificação das técnicas meditativas. 

Em termos básicos, poderíamos dividir as meditações em ativas (técnicas com movimento) e passivas  (técnicas sem movimento). Tal classificação segue aquilo que apresento em meu livro “Medicina e  Meditação”, da MG Editores

Medicina e meditação

Médico há mais de vinte anos e meditador há mais tempo ainda, o autor mostra com precisão várias técnicas de meditação e os seus benefícios para a saúde. Sem qualquer orientação religiosa, filosófica ou moral, trata-se de uma obra para ler, aprender e praticar. Edição revista, atualizada e ampliada.

Também no capítulo  sobre meditação que escrevo no livro “Psicologia na Prática Obstétrica”, de Bortoletti et al., Editora Manole .  Em maior detalhamento, poderíamos apresentar as técnicas com subdivisões, como vemos abaixo: 

1) Meditações Ativas Catárticas 

1-a. Base física (foco eminentemente físico) 

1-b. Base emocional (foco eminentemente emocional) 

1-c. Base mental (foco eminentemente mental) 

2) Meditações Ativas de Movimento 

2-a. Movimento devocional 

2-b. Movimento programado 

2-c Movimento espontâneo 

3) Meditações passivas concentrativas 

3-a. Passivas devocionais 

3-b. Passivas com sons 

3-c. Passivas de “fixação” 

3-d. Passivas de visualização 

3-e. Passivas naturais 

4) Meditações passivas perceptivas 

4-a. Pós-catarse 

4-b. Pós-concentração 

4-c. Perceptivas devocionais 

4-d. Perceptivas de harmonização 

4-e. Perceptivas de testemunhar 

5) Técnicas mistas

Nesta oportunidade de hoje, falaremos um pouco mais sobre as técnicas ativas de meditação. Vejamos,  agora, passo a passo, como são operacionalizados esses tipos de técnicas. 

As meditações catárticas se iniciam com algum exercício que permitam externar eventuais conteúdos  emocionais reprimidos; em outras palavras, começam “jogando emoções para fora”. Naquelas de cunho  físico, tudo começa com uma atividade física, geralmente extenuante, que leva o praticante até a exaustão  (ex: correr muito até exaurir-se e depois permitir-se ir ao chão), o que é seguido por um estado de entrega.  Na verdade, a âncora consiste em observar esse próprio estado do corpo e, sempre que se apanhar em  alguma sequência de pensamentos, deve-se voltar à observação do corpo e de suas sensações, sem  julgamento. 

As modalidades de cunho emocional repetem alguma reação geralmente ligada à emoção intensa. Pode-se  utilizar, por exemplo, o choro – ou o riso – inicialmente forçado, mas que acaba se tornando espontâneo, até  que atinja um ponto de descontrole. A partir daí, a reação é liberada até a exaustão (geralmente por um  tempo que varia de 15 a 30 minutos, a depender da técnica). Depois disso, como âncora, observa-se o  próprio estado do corpo e das emoções, sem julgamento. Mais uma vez, sempre que o meditador se  perceber envolvido na corrente de pensamentos, deve voltar à observação do corpo e das emoções. 

As técnicas catárticas de cunho mental utilizam um estratagema interessante: ao invés de tentar  “desacelerar” a mente, elas aceleram a atividade mental até um ponto vertiginoso, para depois meditar em  um estado de semi-esgotamento da “máquina mental”. Uma das técnicas consiste em gritar palavras  desconexas (sem significado algum), insistentemente, geralmente com uma música instrumental acelerada  de andamento rápido, ligada em alto volume. Tal ação é mantida por 15 a 20 minutos, até um estado de  “semi-exaustão mental”, que depois é seguido pelo silêncio. Este tipo de técnica freqüentemente se situa  entre as técnicas mistas, pois frequentemente se segue uma técnica passiva, observando a própria  respiração como âncora. Da mesma forma, o praticante estará atento ao eventual envolvimento em  sequências de pensamentos, pois quando isso acontecer, deverá voltar à âncora estabelecida. Nas técnicas ativas de movimento devocional, emprega-se algum tipo de movimento que tenha um  significado devocional, tal como a genuflexão repetida, como utilizada na prece maometana, ou então o  balanço do corpo com as mãos postas como nas preces cristãs. Nessas técnicas, o próprio movimento deve  ser observado, sem julgamento, como âncora. O que tenho percebido, porém, é que os fortes valores  religiosos, morais e culturais, visceralmente associados a esses movimentos, frequentemente “contaminam”  a técnica, e acabam por promover sequencias de pensamentos, onde se julga o próprio exercício meditativo.  Por tal razão, tenho visto que, curiosamente, um cristão evita melhor a corrente de pensamentos quando  usa uma técnica que empregue a prece maometana, enquanto um muçulmano consegue “relaxar a lógica”  com mais eficiência ao utilizar movimentos de prece cristã. 

Nas modalidades de movimento programado, não se utilizam movimento de cunho devocional, mas  também se utiliza uma movimentação previamente conhecida que é mantida durante a técnica. O maior  exemplo seria a meditação ao caminhar, empregada por alguns monges, na qual a âncora pode consistir em  contar os passos, além de manter toda a atenção na sensação do contato dos pés com o solo. Sempre que o  meditador notar-se envolvido com sequencias de pensamentos, ele voltará à âncora da contagem e do  contato dos pés. Um outro tipo é constituído pelas técnicas de movimento espontâneo. Nestes tipos, o movimento não é  previamente estabelecido, podendo variar de um praticante para outro. Um bom exemplo estaria em  técnicas que empregam músicas instrumentais, de andamento lento, geralmente com instrumentos de  corda e sopro em destaque. A âncora seria a própria música, ou mais propriamente “a música envolvendo o  corpo” do praticante, e o movimento espontaneamente despertado por ela, sem planejamento. Pela sutileza  desta técnica, ela pode representar considerável dificuldade para principiantes, e por isso é frequentemente  precedida por um artifício catártico, que possa antes “cansar” o corpo e a mente do meditador, levando-o a 

um estado mais propício para este exercício. Assim, costumam-se empregar exercícios como pular ou  “chacoalhar” o corpo, e só depois se inicia a música suave que levará aos sutis movimentos corporais. 

by Roberto Cardoso

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