Retiros de meditação

Uma prática comum entre meditadores, especialmente em meio aos iniciantes e medianamente experientes, são os retiros de meditação. Eu, particularmente, já estive em vários deles, alguns muito bons, outros nem tanto. Tenho, inclusive, queridos amigos que promovem – ótimos – retiros para meditadores. Hoje, falaremos sobre esse tipo de atividade.
 
Será que os retiros são a única opção para meditar? Será que eles são a melhor opção? Será que só trazem vantagens? Bom, isso depende do que se busca, pois pode ser uma “faca de dois gumes”. Vamos listar, aqui, neste texto, algumas vantagens e desvantagens desta prática.

A primeira vantagem dos retiros está na intenção. Aquele se inscreve, paga e vai para algum recanto viver uns dias de (quase) ascetismo, já tomou uma decisão. Quer aprender a meditar… ou quer praticar ainda mais meditação. Geralmente, é uma pessoa que já não tem barreiras contra a meditação, ou que pelo menos já derrubou a maioria delas. Sua disposição torna a prática mais fácil, e os primeiros resultados mais visíveis.

Outro aspecto importante é que o meditador irá encontrar pessoas que, tais como ele, estão dispostas a meditar sem colocar empecilhos ao método. Essa força de grupo gera um ambiente muito propício para a prática meditativa.

Uma terceira conveniência surge para o meditador iniciante. Especialmente para aquele que nunca meditou. Em workshops ou em cursos in company nem sempre o ambiente lhe deixa a vontade o bastante para que ele se entregue à técnica e, por isso, às vezes ele não conhece (ou não percebe) o estado modificado de consciência típico da meditação; pelo menos não nas primeiras práticas… e isso pode fazê-lo desacreditar da técnica. Em um retiro, ao contrário, ele mais facilmente conhecerá o estado meditativo, e logo perceberá que a meditação tem efeitos (pelo menos notará os efeitos de curto prazo).

Mais um ganho estaria na pausa regeneradora, no ócio construtivo. Parar com tudo e ir a algum lugar para se conectar consigo mesmo é uma atividade sempre bem-vinda, mesmo que não seja para meditar. Mais ainda quando se exercita esta técnica que traz tantos benefícios para seu praticante.

 

Mas, nem tudo são flores, quando se fala sobre os retiros de meditação, e a principal desvantagem deles é explicada por um efeito parecido àquilo que é chamado de “dissociação de aprendizagem”.

 

Imagine dois jovens que, para virar algumas noites estudando para provas, usavam anfetamínicos (medicamento com ação estimulante sobre o sistema nervoso). No entanto, suas notas nas provas não eram boas, provavelmente por terem perdido umas boas horas de sono. Alguém então teve uma idéia de não deixá-los estudar nas últimas 24 horas antes da prova, para evitar que a organização das informações fosse traída pela memória: não funcionou. Outra pessoa sugeriu que eles dormissem bem a última noite antes da prova: também não funcionou. Aí, então, alguém teve a idéia de lhes dar anfetamínicos antes da prova, e as notas melhoraram bastante. Por quê? Ora, porque a química cerebral na hora em que o aprendizado era exigido (a hora da prova) era a mesma química cerebral em que ocorreu o aprendizado. Antes disso, o aprendizado e sua aplicação aconteciam em momentos de neuroquímicas distintas, e o aprendizado não era plenamente aplicado. Houve uma dissociação entre a aprendizagem e sua aplicação, o que determinou uma baixa efetividade.

Outra informação importante é a de que existe uma relação entre o ambiente e a neuroquímica (a química que existe no sistema nervoso, especialmente aquela dentro do nosso cérebro). Quando estamos deitados confortavelmente na nossa cama, no aconchego do quarto de dormir, a nossa química cerebral é uma. Quando estamos no trabalho, essa química é outra. Quando estamos em uma festa, a química da nossa mente já seria de um terceiro tipo. E assim por diante. Diferentes ambientes, diferentes sensações, diferentes memórias associadas ao ambiente: diferentes neuroquímicas. Há uma relação entre o ambiente em que estamos e a química cerebral que ele promove. É o que chamaríamos de: a “química do ambiente”.

Por isso, nem sempre é possível trazer todo o aprendizado obtido em um retiro, em meio à natureza, em um tranquilo hotel de campo, para o ambiente de casa, ou do trabalho. Ao chegarmos ao trabalho, parece que “toda aquelas sensações estressantes voltam a atormentar”. Ao voltarmos para casa parece que “todos os problemas familiares voltam a nos perturbar”. É o efeito do ambiente sobre nossas emoções e, consequentemente sobre a nossa neuroquímica. E isso explicaria porque parece que, depois de alguns dias de “plena beatitude meditativa” nas montanhas, tudo voltou ao mesmo “Inferno” de antes. A meditação parece não funcionar lá dentro. Algumas pessoas chegam até a duvidar, e se perguntar se aquelas sensações que conheceram no retiro eram reais, ou se apenas foram sugestionadas.

Esta é a razão de se tentar levar o ensino da meditação ao ambiente das cidades, do trabalho, da vida cotidiana. O aprendizado é feito nas mesmas condições em que será aplicado diariamente. O ambiente em que se aprendeu será o mesmo em que irá se praticar. Essa tática não apenas torna a meditação um método mais factível, como também ajuda a alterar a química do ambiente. A atmosfera trabalho não parece mais tão insalubre. A cidade não parece mais tão inóspita. A meditação estará mais dentro de nós quando estiver mais dentro de nossas vidas e de nossos ambientes costumeiros.

Notem, portanto, que existem prós e contras nos retiros meditativos. Conhecer suas vantagens e desvantagens é o que lhe vai permitir ajuizar quando ele será o mais apropriado a você – ou não.

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