O cenário que criamos acima representaria um típico progresso meditativo. Os aprendizes, com poucas semanas de prática, preenchem o círculo. Alguns mais, alguns menos; uns com um colorido homogêneo, outros com algumas regiões mais azul-claras e outras mais azul-escuras, mas todos – ou quase todos – preencheriam o círculo de alguma maneira. Depois, para ir além, é preciso continuar meditando. Aí, então, o azul começaria a aparecer fora do círculo, decorridas algumas semanas. Os principais efeitos levados para fora do círculo (para fora do momento da prática) seriam a redução do alarme e – nosso assunto de hoje – o aumento da atenção.
Em 2007, como parte dos trabalhos do seu Doutorado na Universidade de Oregon, Aditi Joshi estudou os efeitos da meditação sobre as vias cerebrais da atenção. Para isso, usou o eletroencefalograma (EEG). O grupo de estudo aprendeu a meditar e praticou por oito semanas, enquanto o outro grupo (grupo controle) praticou relaxamento muscular progressivo. Nos resultados, notou-se que os meditadores tiveram um melhor desempenho no teste de atenção, mostrando-se menos dispersivos do que o grupo controle. Esses achados coincidiram com diferenças igualmente significantes nos traçados de EEG na região frontal e parietal.
Uma comunicação brasileira, de Elisa Kozasa e colaboradores, foi publicada na revista Psychiatry and Clinical Neurosciences (2008; 62:366), utilizando a ressonância magnética funcional (um método de imagem cerebral) em meditadores, antes e depois de um retiro budista de oito dias. Notou-se, após a prática do retiro, um aumento da ativação de vários segmentos cerebrais relacionados com a atenção.
Um interessantíssimo trabalho surgiu em 2009, quando Shisei Tei e colaboradores publicaram um estudo conjunto da Universidade de Tokio e de um Instituto universitário suíço (KEY Institute for Brain-Mind Research). Nesse estudo, utilizou-se um eletroencefalograma (EEG) modificado por um equipamento capaz de localizar a provável origem de cada estímulo elétrico dentro do cérebro. O que se fez de diferente, neste trabalho, é que se compararam os dois grupos (meditadores e não-meditadores) em repouso, sem que se aplicasse qualquer tarefa que demandasse atenção (Brain Topography 2009; 22[3]:158-165). Percebeu-se que, mesmo em repouso, nos meditadores, as áreas cerebrais de atenção (incumbidas da detecção e integração das informações sensoriais internas e externas) mostravam uma maior ativação, quando eles foram comparados aos não-meditadores. Os autores concluíram que (tradução minha) “…os achados espelham os relatos subjetivos [já existentes] de uma maior atenção e um maior destaque [desligamento] nas experiências advindas dos períodos não-meditativos da vida diária…”
Todos esses estudos parecem reforçar a observação que meditadores e instrutores vêm tendo – e reportando – há vários séculos. A meditação, exercitada regularmente, acaba por “extravasar” seus efeitos para além do momento da prática, preenchendo outros momentos da vida diária do seu praticante.
Assim, podemos continuar meditando, reduzindo o nível de stress, aumentando a concentração, melhorando a auto-observação, evoluindo emocionalmente, enfim, vivendo melhor e mais plenamente.
Até nosso próximo encontro.