Certa vez, nesta mesma coluna, escrevemos sobre as razões que costumam levar alguém a parar de meditar. Ano passado, em um evento internacional, apresentamos um trabalho no qual seguimos, por quatro anos, alunos de workshops de meditação. Veja aqui os resultados (Cardoso R, Souza E, Camano L & Leite JR. Índice de desistência de praticantes quatro anos pós-treinamento de meditação. 2º Simpósio Internacional de Medicinas Tradicionais e Práticas Contemplativas. São Paulo, UNIFESP, Setembro de 2010).
Estudamos 96 alunos de workshops de meditação, acompanhando-os por quatro anos após o treinamento. Fazíamos contato anual com cada um deles. Conseguimos manter contato continuado (por 4 anos) com 81 deles. Passados quatro anos, estudamos quantos deles ainda mantinham a prática de meditação e quantos referiam a intenção de continuar praticando futuramente. Verificamos, ainda, a freqüência semanal com que meditavam.
De acordo com a freqüência semanal, dividimos os voluntários em quatro grupos: meditadores regulares (5 ou mais práticas por semana), meditadores infrequentes (1 a 4 práticas por semana), meditadores esporádicos (1 a 3 práticas por mês) e desistentes (prática ausente ou inferior a uma vez por mês).
Entre os voluntários estudados (81), notamos após 4 anos que 12 deles eram meditadores regulares (15%), 32 eram meditadores infreqüentes (39%) e 25 eram meditadores esporádicos (31%). Encontramos 12 desistentes (15%).
Vejam, então, que o índice de desistência “amplo”, ao considerarmos uma freqüência inferior a uma vez por semana (desistentes + esporádicos), foi de 46%. O índice de desistência completa (apenas os desistentes) foi de 15%.
Quando observamos a evolução, ano após ano, notamos que uma parcela dos meditadores infreqüentes ia gradativamente passando a meditar esporadicamente, ou seja, alguns voluntários praticavam com mais regularidade nos primeiros anos e depois reduziam a frequência das práticas.
Outro achado importante foi o de que os desistentes completos assim se manifestaram desde o primeiro ano. Ao serem contatados um ano após o workshop, eles já eram desistentes completos e assim se mantiveram até o fim do estudo (quatro anos). Em outras palavras, cerca de 15% das pessoas não irá meditar mesmo, ainda que façam um workshop de meditação bem conduzido. Inclusive, esse grupo de desistentes completos foi a única parcela dos voluntários que não referiu intenção de meditar futuramente.
Por outro lado, outros 15% aprendem a meditar, meditam 5 a 7 vezes por semana, e ainda estarão meditando quatro anos depois. Quase todos esses meditadores regulares já se mostravam assim desde o início, pois eram um grupo de 13 pessoas no contato de primeiro ano e eram 12 ao final de 4 anos (apenas um deles reduziu a quantidade de práticas). Quando somamos estes meditadores regulares aos meditadores infreqüentes (15% + 39%), veremos que 54% dos alunos de um workshop estarão meditando, quatro anos depois, pelos menos uma vez por semana, o que nos pareceu um bom resultado.
Houve uma tendência de manutenção da prática discretamente maior entre as mulheres.
A literatura fala em índices de desistência variando entre 33 e 44%, embora os critérios para classificar o grau de desistência sejam um pouco modificados de um trabalho para outro. De qualquer forma, nossos achados se situam em acordo com que outros pesquisadores também encontram, e se considerarmos nosso índice de desistência completa (15%) nós estaríamos até com números bastante promissores. Por isso, para aqueles que conduzem grupos de treinamento em meditação, eu digo: não desanimem. Sempre haverá uma parcela que não seguirá meditando. Isso não quer dizer que a meditação não é uma boa prática, e nem que seus esforços foram em vão.
Até breve!