Excesso de Informação e Meditação

Informação, informação, informação! O que tem isso a ver com o stress? O que tem a ver com a meditação? Sobre isso, falaremos aqui.

Hoje, vivemos uma dicotomia. Estamos na era da informação. Só que ninguém mais dá conta de tanta informação!

Além da TV, do rádio e dos computadores “clássicos”, temos também os notebooks, netbooks, tablets, smartphones, enfim, uma série de recursos que também fazem parte do dia-a-dia profissional e nos abarrotam de dados, sejam bons ou ruins, necessários ou desnecessários.

Para que se tenha uma ideia, calcula-se que, de uma década para cá, a humanidade já consegue gerar, em apenas um ano, milhares de vezes mais informação do que todas as civilizações que já existiram sobre a Terra. Hoje, a humanidade é uma usina atômica para gerar novos dados.

Isso se torna um problema porque, apesar do crescimento vertiginoso da tecnologia que nos traz informações, a nossa capacidade de absorvê-la e de lidar com ela permanece igual. Temos a mesma composição genética e estrutura cerebral dos nossos tataravôs, ou seja, temos um limite humano para absorver e lidar com as informações.

Quais as consequências disso? Várias. Uma, é o stress! Outra, explicamos abaixo;

Já se conhece a existência de um problema que se chama “deficit de atenção do adulto”, onde há certa tendência genética a regular mal o funcionamento de uma área do cérebro, o lobo pré-frontal.

Você esquece coisas com frequência? Distrai-se com facilidade? Tem dificuldade em se ligar a atividades que exigem atenção? Não consegue ficar com o corpo parado? Tem dificuldade de prestar atenção a alguém falando com você? Seu humor varia bastante? É desorganizado? E impulsivo? Estes são alguns sintomas do déficit de atenção do adulto. Faça o seu teste no site da Associação Brasileira do Deficit de Atenção: http://www.tdah.org.br/index.php?option=com_k2&view=item&layout=item&id=14&Itemid=119&lang=br

Nos dias atuais, parece que a enchente de informações no ambiente de trabalho chegou a tal montante que alguns estudiosos creem que existem adultos com déficit de atenção relacionado especialmente ao trabalho. Esta nova entidade, que vem sendo chamada de Deficit de Atenção Organizacional, foi proposta em um livro por Thomas Davenport e John Beck (http://books.google.co.za/books?id=j6z-MiUKgosC&printsec=frontcover&dq=the+attention+economy#v=onepage&q=the%20attention%20economy&f=false). Quando tem esse problema, o indivíduo apresenta: 1) sensação que sempre ainda está faltando alguma informação quando precisa tomar decisões, 2) troca de e-mails ou recados de voz sem refletir bem no que fala, se restringindo apenas as informações, escrevendo – ou falando – sem pensar direito 3) dificuldade, tanto de manter atenção em alguém quanto de reter a atenção de alguém, e 4) dificuldade de manter o foco (sem dispersão) nas atividades em geral. Isso seria responsável pela geração de considerável stress desnecessário no ambiente de trabalho.

Aí, surge naturalmente a pergunta: o que fazer, então? Viramos índios? Continuamos todos assim até enlouquecermos?
Claro que não. Existem outras saídas, e vamos falar aqui de 3 delas.

A SELEÇÃO

A primeira coisa é aprender a filtrar o que vai se ler, ver ou ouvir. Um médico pode ser ajudado sabendo de uma nova epidemia que surgiu em alguma região do país, mas para que lhe serviria conhecer a melhor técnica de confeitar bolos? Um doceiro ficaria melhor lendo sobre a nova técnica de confeitar, mas de que lhe serviria conhecer em profundidade os detalhes da epidemia que agora é notícia? Para que nos serve sermos os reis da “cultura inútil”? De que nos serve ler a mesma notícia quinze vezes, em quinze sites diferentes? Saber filtrar o que é essencial, o que é útil e o que é só curiosidade, pode ser o primeiro passo para resguardar sua saúde mental.

Não se precisam saber todas as coisas nem mesmo da própria profissão. Por exemplo, existem medicamentos que, quando tomados em conjunto, podem gerar um efeito diferente daquele esperado para ambas as medicações isoladas: isso se chama de interação medicamentosa. Pois é, são tantos os tipos de medicamentos e tantas as combinações possíveis que nenhum profissional de saúde seria capaz de conhecer todas elas. Mas, para isso, existem sites especializados que ajudam a descobrir rapidamente as possíveis interações. Se algum médico tentar decorar todas as combinações possíveis, nunca vai conseguir e ainda vai ganhar uma boa dose se stress. Mas basta que ele conheça as mais comuns, e quando quiser se informar sobre as outras, saiba onde buscar a informação quando necessário, e seu problema pode estar resolvido. Quando não se trata de uma informação essencial, saber onde buscar a informação é mais indicado do que ter a informação abarrotando sua cabeça.

AS PAUSAS “MÁGICAS”

“Aprenda a fazer pausas… ou nada de valor te alcançará” (Doug King)

Você Sabe quanto tempo leva em média para ser interrompido por alguém no seu trabalho? Bem, segundo Victor González e Gloria Mark, no ambiente da tecnologia de informação alguém lhe interrompe a cada 11 minutos! (http://www.isr.uci.edu/~gmark/CHI2004.pdf) Isso sem falar no smartphone despejando torpedos e e-mails numa frequência intolerável para uma produção eficiente.

Simplesmente, não há como produzir assim! Se sua função for apenas repetitiva (ex: carimbar as mesmas caixas, com o mesmo carimbo, o dia todo, todos os dias), até que vai… Mas,
se quiser aprimorar algo, não ser interrompido ajuda muito. Se for para criar ou inovar, então, aí a interrupção é um “assassinato de ideias”.

Por isso, se você precisa criar, aprimorar ou inovar, deve haver momentos no decorrer do dia, pelo menos uns dois períodos de 90 minutos cada, onde você não é interrompido. Nesses pequenos períodos, feche a porta, não veja e-mails, desligue o celular e combine com todos para não lhe chamarem. Não consegue? Não é possível? Então se prepare para não criar nada, ou se estressar até ficar doente, ou ambos.

Há um interessante conto africano sobre fazer pausas, que vi reproduzido por Paulo Coelho. É o seguinte:
“…Um explorador branco, ansioso para chegar logo ao seu destino, pagava um salário extra para que os seus índios andassem mais rápido. Durante vários dias, os carregadores apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos sentaram-se no chão e depositaram seus fardos, recusando-se a continuar. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os índios não se moviam. Quando, finalmente, o explorador pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta: andamos muito depressa e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem…”

A MEDITAÇÃO

Aqui está um excelente instrumento para lidar com o excesso de informações. Meditação é linha de pesquisa e ensino da qual participamos na UNIFESP. Também é o tema do nosso livro “Medicina e Meditação”, da MG Editores.

Meditar ajuda a relaxar, a manter a atenção, a dormir melhor, além de vários outros efeitos positivos. Porém, outro efeito importante desse método é a capacidade de, por alguns minutos, “desligar” a mente “pensante”. Isso traz um enorme descanso mental, melhora a performance, aumenta a produtividade e, além disso, nos dá um “refresco” das gigantescas ondas de informação que nos bombardeiam diariamente. Ela é tão relaxante para a mente, que reduz o consumo de oxigênio cerebral ainda mais do que o sono.

Durante a meditação, você se desliga da “correnteza de informações” que nos sobrecarrega dia a dia.

Medite, e encontre um lugar dentro de si que sempre esteve lá, mas que o tsunami diário de informações lhe impedia de conhecer.

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Ter acesso a informações é uma benção. Mas saber lidar com elas é uma ação de saúde; em alguns casos, até de sobrevivência.

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