Nas primeiras semanas – ou meses – que começam a meditar, vários praticantes me perguntam sobre a “queda da cabeça”. Seria aquela “caidinha” que a cabeça dá
para o lado ou, mais comumente, para frente, durante a meditação. A famosa “pescadinha”, como dizem alguns. O que significa isso? Conversaremos neste texto.
A primeira coisa a entender é que nem sempre a queda da cabeça representa sono. Se já é tarde da noite, você está muito cansado e sonolento, pode até ser
que sim, mas em geral não se trata disso. A caída da cabeça pode representar apenas uma evolução.
Diversos mestres de meditação do passado nos ensinaram que, à medida que vamos praticando, alcançamos estados de consciência cada vez mais sutis. Uma
dasmetáforas usadas sugere que imaginemos nossa consciência como se fosse uma cebola, com várias camadas superpostas e, quando passássemos de um estado a
outro – mais sutil – uma das respostas seria a queda da cabeça. Assim sendo, essa rápida desestabilizada que nossa cabeça apresenta pode ser apenas o reflexo
de um progresso meditativo, e não um fracasso técnico como pensam alguns. Mas, caso você perca completamente a âncora, e sonhe longamente, enquanto sua cabeça pende para frente ou para o lado, aí sim pode interpretar como um “tropeço” técnico a ser corrigido.
Alguns praticantes ainda vão mais longe, e se vêem frente a um impasse. Certo dia, ao meditar, encontram um novo estado de consciência, sua cabeça pende e fica assim até o final da técnica. Depois, quando voltam a praticar, isso acontece de novo sempre que entram em estado meditativo, e assim se repete dia após dia. Eles se perguntam: o que fazer? Deixar a cabeça “caída” e prosseguir nesse estado modificado de consciência ou corrigir a posição da cabeça e se arriscar a perder o novo estado alcançado? Eu costumo aconselhá-los a aguardar uns 3 ou 4 dias e, caso isso continue acontecendo, corrigir a posição da cabeça, pois mesmo assim acabarão “incorporando” esse novo estado à sua prática e também ficam novamente prontos, abertos para avanços futuros.
Isso que descrevemos para a cabeça pode acontecer com outras partes do corpo, que parecem “ganhar vida própria” de uma hora para outra. Um braço treme, o
corpo vibra, a boca se abre inteiramente, e assim por diante. Aqui, volto a aconselhar que se aguardem alguns poucos dias, e depois se corrija o posicionamento para que essa etapa seja deixada para trás.
Qualquer fenômeno corporal que surgir durante a meditação não é um fim em si mesmo. Ele representa apenas um passo de uma viagem, um trecho de um caminho,
uma estação da ferrovia. Por isso, o praticante não deve se deixar encantar pelo novo fenômeno, pois seria como um marinheiro que se encanta com o canto da sereia e esquece sua rota para o além-mar.
Aceite os fenômenos que ocorrerem com seu corpo. Eles são naturais. Não há nada de errado quando acontecem. Por outro lado, também não se apegue a eles. Vá
em frente. O verdadeiro Agora não depende de se agarrar a um fenômeno corporal, por mais intensa que tenha sido a experiência que o fez surgir.