
A “queda da cabeça” durante a meditação
Nas primeiras semanas – ou meses – que começam a meditar, vários praticantes me perguntam sobre a “queda da cabeça”.
Nas primeiras semanas – ou meses – que começam a meditar, vários praticantes me perguntam sobre a “queda da cabeça”.
A meditação traz ganhos, mas antes disso traz perdas. Perdem-se padrões cristalizados, cria-se um “vácuo”, e esse espaço é preenchido com novos – e melhores – conteúdos. Depois de certo tempo, sabe o que acontece? Tudo de novo! Perdem-se mais padrões, cria-se novo “vácuo”, e preenche-se esse “buraco” com novas substâncias… e por aí vai, num crescimento cíclico e por pulsos. No curso desse processo “circular”, geralmente depois de anos de meditação, podem surgir as vivências de despersonalização, e é sobre isso que conversaremos hoje.
De forma geral, e despersonalização é considerada como um problema mental, e está presente em alguns distúrbios psiquiátricos. Ela consiste em uma sensação de perda de identidade, de desidentificação com sua própria pessoa, de sentir que “você na verdade não é você mesmo”, com se sua pessoa fosse apenas uma personagem de uma peça de teatro, como se olhar no espelho não fosse mais olhar para você, mas para uma outra pessoa.
Certa vez, nesta mesma coluna, escrevemos sobre as razões que costumam levar alguém a parar de meditar. Ano passado, em um evento internacional, apresentamos um trabalho no qual seguimos, por quatro anos, alunos de workshops de meditação. Veja aqui os resultados (Cardoso R, Souza E, Camano L & Leite JR. Índice de desistência de praticantes quatro anos pós-treinamento de meditação. 2º Simpósio Internacional de Medicinas Tradicionais e Práticas Contemplativas. São Paulo, UNIFESP, Setembro de 2010).
Estudamos 96 alunos de workshops de meditação, acompanhando-os por quatro anos após o treinamento. Fazíamos contato anual com cada um deles. Conseguimos manter contato continuado (por 4 anos) com 81 deles. Passados quatro anos, estudamos quantos deles ainda mantinham a prática de meditação e quantos referiam a intenção de continuar praticando futuramente. Verificamos, ainda, a freqüência semanal com que meditavam.
Exercícios de presença são úteis, importantes e, muitas vezes, transformadores, mas não devem ser confundidos com técnicas de meditação. Hoje, falaremos sobre este tema.
Tente se lembrar de alguma vez que você tropeçou na rua, ou que alguém lhe surrupiou alguma coisa, ou que deu uma “batidinha” com o carro, ou que esqueceu em casa algo que precisava levar com você. Conseguiu? Lembrou-se? Pois eu garanto que, em todas essas situações, havia algo em comum: você não estava presente…
Como assim?… Pergunta você. Afinal, você estava lá, naquele dia, naquela hora, e não só presenciou como também sofreu com o ocorrido. Bem, podemos ver essas cenas sob um prisma diferente. Sim, você estava lá, em carne em osso, mas não em alma, não em pensamento. Seu pensamento estava longe, pensando em algo porvir, em alguma preocupação, em alguma dúvida em relação ao futuro, mas não estava no presente. Podia estar lembrando-se de algum fato do passado, com raiva, ou mágoa, ou frustração, mas não estava no presente.
Em nossa experiência clínica, temos percebido algumas impropriedades didáticas no ensino da meditação. Hoje, gostaríamos de falar sobre as principais inadequações que temos detectado. Todas elas caracterizam impropriedades, ou por serem indutoras de exercício da lógica, ou então conduzirem a estados modificados de consciência diferentes da meditação.
Este é um trecho de artigo nosso, publicado em: Anais do VI Congresso de Stress da ISMA Brasil – International Stress Management Association. Porto Alegre, Junho de 2006.
Primeira inadequação: induzir à imaginação criativa. Exemplos: “Imagine-se, agora, às margens de um lindo lago azul…”; “Sinta-se, agora, desprendendo-se do seu corpo e voando livremente para a paz…”
Um dos conceitos mais sutis, ao se falar de meditação, não está no que se faz, mas no que não
Um dos aspectos que considero mais interessantes dentro da prática médica diz respeito ao que chamamos de efeito placebo. O que é isso e o que isso teria a ver com meditação? Vamos explicar aqui.
Ainda me lembro da minha época de estudante de Medicina em que eu, ávido por experiências médicas “reais”, freqüentava plantões de emergência médica para ver de perto a ação dos profissionais de saúde. Era uma espécie de excitação pela urgência, junto com a inquietude de aprender todos os macetes “práticos” que pudesse conseguir. Acho que tinha a ilusão de que aquilo me tornaria médico mais rápido, ou melhor, do que meus colegas. Nessa sôfrega busca por experiências práticas, eu convivia com alguns médicos mais calmos, mais ciosos de seus deveres, mais vocacionados… que eu achava um pouco chatos e sem graça. Outros eram mais impulsivos, mais “corajosos”, mais “práticos”… e a esses eu – simploriamente – admirava.
Certo dia, em um desses plantões, na pausa para um lanche, um desses médicos que eu admirava relatou um caso em que deu uma pílula de vitamina a um paciente que se queixava de dor, e a queixa desapareceu, a dor simplesmente sumiu. Todos riram muito, admirando-se da “burrice” daquele paciente, que havia “caído direitinho” na história do remédio falso.
Em meus estudos de técnicas de meditação, tive contato com inúmeras correntes filosófico-religiosas, e conheci diferentes doutrinas que tentam explicar
Abraham Maslow viveu de 1908 a 1970. Lecionou nas Universidades do Brooklin e de Brandeis, nos Estados Unidos, porém foi
Meditar não é pensar; nem refletir; nem julgar; nem esperar por algo. Assim sendo, ao meditarmos, mesmo quando pensamos que estamos fazendo algo bom, ou refletimos sobre a importância de meditar, ou julgamos que o nosso ato é sagrado, ou esperamos por um fenômeno superior, estamos de fato sabotando a técnica meditativa. É por isso que Ramana Maharishi dizia que “não se pode pedir ajuda ao ladrão para pegar o próprio ladrão”. Este texto tentará explicar essa premissa.
Sem dúvida, a maior confusão que se faz, quando se fala em meditação, é confundir a técnica com o efeito. As pessoas meditam, experienciam efeitos agradáveis, e dizem que a meditação é aquele efeito. Dizem, por exemplo, que “meditar é estar no vazio”, ou que “meditação é sentir-se em harmonia com o Todo”, ou ainda que “meditação é preencher o coração com o Universo”. Porém, esquecem de dizer que: 1) Tal efeito foi conseguido através de uma técnica e descrevê-lo não ensina como atingi-lo; 2) O efeito sobre você pode ser bem diferente daquele que aconteceu com a outra pessoa, e; 3) Mesmo que o efeito com você seja o mesmo, a descrição feita por aquela pessoa não corresponderá (para você) à definição que você teria para o mesmo estado. Assim sendo, estou sempre vendo indivíduos lendo descrições de efeitos da meditação, e tentando meditar procurando imaginá-los, procurando reproduzir o efeito do qual ouviu falar, e isso é um intenso exercício mental de lógica. Um contra-senso.
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